HCC

HCC sofre com impacto da falta de reajustes das tabelas SUS há quase 20 anos

22/09/2023

Saiba quais são esses impactados, como o hospital realiza a gestão dos recursos e qual a importância do reajuste das tabelas SUS

Os impactos da falta dos reajustes financeiros das tabelas do Sistema Único de Saúde (SUS) no Hospital de Caridade de Carazinho são significativos, assim como os demais hospitais que atendem o SUS no Brasil. Desde o início do Plano Real (1994), a tabela do SUS e seus incentivos, por exemplo, foi reajustada em média, 93,77 % sendo que o INPC do período foi de 637,07 %. Esse fenômeno provoca uma grande defasagem entre os gastos e os valores recebidos pelo programa. O déficit, nos serviços prestados ao SUS no Hospital de Caridade de Carazinho, no ano de 2022, fechou em cerca de R$ 12,6 milhões. Já esse ano de 2023, até o mês de maio o valor do déficit já havia passado de R$ 5,6 milhões.

Para simplificar, quando um paciente interna no HCC através do SUS, com um quadro de pneumonia, por exemplo, o SUS aporta o valor fixo de R$ 582,42, sendo desses, R$ 78,35 para o profissional médico, e o valor cobre quatro dias de internação.  No mês de agosto, o HCC recebeu uma paciente x com essa patologia, a qual precisou ficar internada cinco dias na instituição. Em um levantamento simples, essa paciente acabou custando R$ 3.600,67 somente em remédios, ou seja, o HCC aportou toda a estrutura, profissionais (fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, entre outros), limpeza, refeições e ainda cobriu parte da medicação. Há casos ainda que o paciente pode permanecer internado mais de 30 dias decorrente a patologia, ou seja, o valor ainda permanece os R$ 582,42.

Outro exemplo é o atendimento SUS na Emergência do HCC, quando um paciente chega ao Serviço com um quadro de gripe seguido de tosse, o valor que o SUS paga para a consulta é de R$11,00, para a medicação para dor: R$ 0,63 (valor de toda a medicação que o paciente precisar durante a estada na Emergência), para o profissional médico: R$ 6,30, para o leito: R$ 12,47, para a refeição: R$ 6,30 e, ainda se ele precisar fazer uma raio-X, por exemplo, o valor pago ao HCC é R$ 9,50. Ao total o HCC recebe R$ 46,20, sendo que R$ 6,30 é do profissional médico.

Neste caso, o custo da consulta é de R$ 150,00, a medicação para dor: R$ 50,00, o leito: R$ 70,00, a refeição: R$ 50,00 e o valor do raio-X: R$ 93,00. No caso, esse paciente teve um custo para o Hospital de R$ 360,80, podendo o valor do medicamento variar conforme a prescrição médica. Na diferença, o valor pago pelo HCC para o atendimento do paciente SUS é de aproximadamente R$ 321,00.

Em ambos os casos, o HCC acaba aportando valores para o atendimento SUS. Neste sentido, a Direção da instituição vem trabalhando para combater esse déficit, o qual ainda chega a um valor expressivo. Segundo o presidente do HCC, Jocélio Cunha, hoje o hospital financia o Sistema Único de Saúde, uma vez que toda a modernização realizada até então, acaba custeando a falta dos valores que já deveriam ter sido reajustados. “A gestão do hospital, feita pela equipe da Direção, a qual realiza um trabalho voluntário, há 13 anos busca oferecer a todos um serviço de qualidade na instituição. Mas os impactos que as tabelas defasadas estão gerando, faz com que todos os valores arrecadados com atendimentos particulares, por exemplos, cubram o déficit gerado. Hoje cresceu muito o atendimento particular no HCC, graças a ações de empresas, entidades e pessoas da comunidade, que modernizaram leitos privativos e possibilitaram a continuidade do atendimento SUS”, explica Jocélio.

Os grandes aliados do HCC nesse enfrentamento desse déficit são os Deputados Federais e Estaduais, Senadores, e o Poder Legislativo Municipal de Carazinho e também a Administração Pública Municipal, juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde. Juntos eles possibilitam uma série de ações que minimizam os prejuízos. A secretária de Saúde, Anelise Almeida, explica que a falta da correção da tabela SUS coloca em situação deficitária as atividades em saúde em todas as áreas, com ênfase no âmbito ambulatorial e hospitalar.

“O valor repassado pelos procedimentos é insuficiente para cobrir os custos hospitalares. Diante desta situação o Governo Municipal de Carazinho tem repassado através do contrato, valores que complementam as atividades SUS com recursos próprios, este complemento possibilita a atuação do plantão na Emergência e na UTI 24 horas por dia e o atendimento nas especialidades médicas no sobreaviso, bem como alguns exames de imagem, procedimentos específicos e cirurgias eletivas, o que permite o HCC realizar os atendimentos aos usuários do SUS. Ainda, o Município de Carazinho por ser gestão plena recebe um teto de valor para os procedimentos de Média e Alta Complexidade, não é um valor suficiente para a produção realizada mensalmente, pois o HCC tem uma produção a mais do que o repassado pelo Ministério da Saúde, sendo complementado com recursos próprios municipais para amenizar o déficit hospitalar priorizando as condições de atendimento à população”, conclui Anelise, ressaltando que é uma prioridade para todos, que o teto seja reajustado e que tudo está sendo feito para que isso ocorra.

Para o presidente da Federação das Santas Casas Santa Casa e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do RS, Luciney Bohrer, a tabela que remunera os procedimentos do SUS é deficitária, atingindo, em especial, as Santas Casas e Hospitais Filantrópicos que, pela natureza de atuação entregam, no mínimo, 60% dos seus serviços ao SUS.

“Um levantamento feito este ano pela Federação RS, indica que para cada R$ 100,00 de custos o SUS remunera R$ 73,00, deixando este déficit para os hospitais. As medidas tomadas de acordo com a características do porte e localidade do hospital passam desde a diminuição da oferta de serviços ao Sistema, sempre respeitando o que determina a legislação, fechamento de leitos, diminuição da estrutura, aumento dos atendimentos de convênios e/ou particulares, buscando diminuir o déficit operacional dos hospitais, o que nem sempre ocorre”, diz Luciney. Ele ainda explica que a importância do reajuste desta Tabela é intimamente ligado à manutenção do atendimento ao SUS, diminuindo as já conhecidas esperas por atendimento, qualificação e ampliação dos serviços ofertados, garantia de equilíbrio econômico e financeiro para os hospitais, entre outros.

 


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