Setembro Amarelo: médico psiquiatra do HCC fala sobre o suicídio na infância e adolescência
Na entrevista, o médico psiquiatra do Hospital de Caridade de Carazinho, Dr. Marcus Dalsasso, explica os fatores de risco, os sintomas e as ações de prevenção ao suicídio. Confira:
Muito se falou, no primeiro semestre deste ano, sobre o aumento das ocorrências de suicídio na infância e adolescência. A discussão foi impulsionada com a repercussão do desafio virtual Baleia Azul - que estabelece ao participante a realização de 50 tarefas, sendo a última delas o suicídio - e ampliada pela veiculação da série de ficção 13 Reasons Why (Os 13 Porquês), da Netflix - na qual a personagem principal, uma garota de 17 anos, grava em fitas K7 os 13 motivos pelos quais ela decidiu tirar a própria vida.
Diante do envolvimento de crianças e adolescentes com o jogo e a série citados, o suicídio ganhou as mídias e as rodas de conversa em tom de preocupação, alertando, assim, pais, instituições de ensino e profissionais da saúde para a importância de sua identificação e prevenção.
Mas, afinal, o que pode ser feito para ajudar uma pessoa que esteja pensando ou planejando se matar? Esse e outros questionamentos sobre o tema serão esclarecidos pelo médico psiquiatra do setor de Psiquiatria do Hospital de Caridade de Carazinho, Dr. Marcus Dalsasso (CRM 25679), na entrevista a seguir. Confira:
P: Os índices de suicídio na infância e adolescência estão crescendo realmente?
R: Sim, principalmente devido ao uso de álcool e drogas que aumentam a impulsividade e o risco de suicídio. Também, pelo acesso a informações erradas e de estímulo ao suicídio, propagadas, muitas vezes, pela internet. Recentemente, por exemplo, vieram à tona os jogos de desafios que estimulam os adolescentes a realizarem automutilações e cometerem o suicídio.
P: Existe um perfil de pessoas que cometem suicídio?
R: Sim, são pessoas geralmente deprimidas, que, por vezes, fazem uso de álcool. Elas, muitas vezes, têm histórico de suicídio na família e já tentaram o suicídio antes. Pessoas com luto recente, que perderam seu emprego ou descobriram alguma doença grave também têm o risco aumentado.
P: O que pode levar uma criança ou um adolescente a tirar a própria vida?
R: Geralmente o sofrimento emocional já existe. São famílias desestruturadas, com situações de alcoolismo, de abuso na infância ou maus tratos. Também, a separações dos pais ou mortes por suicídio na família podem estimular a criança a fazê-lo.
P: As pessoas que desejam se suicidar apresentam sinais ou sintomas?
R: Sim. O indivíduo que está com ideias e intenções de cometer suicídio está, geralmente, triste, fechados em seu próprio mundo e, muitas vezes, já tomou algumas providências para se suicidar: pode ter comprado uma arma, cordas ou venenos, ter escrito uma carta ou um testamento, ter se despedido ou mencionaram para alguém o desejo de morrer. É preciso levar a sério quando alguém ameaça tirar a própria vida.
P: O que os familiares devem fazer diante de uma suspeita de comportamento suicida?
R: Primeiramente, não criticar e sim acolher e levar o paciente a um profissional de saúde mental. Muitas vezes, as professoras notam o aluno diferente ou os colegas de trabalho notam que o outro não está bem. É preciso medicar quem está deprimido, ajudar nos dramas pessoais. Se o risco é alto, há a necessidade de internação para proteger.
P: Existem maneiras de prevenir o suicídio?
R: Sim, acolhendo o sofrimento da pessoa, tratando a depressão ou dependência química e tentando identificar esses pensamentos suicidas. Perguntar se a pessoa tem ideias suicidas não aumenta o risco, mas sim ajuda a identificar o paciente que necessita de ajuda.
P: Qual a importância de falar sobre o assunto, nessas campanhas de prevenção?
R: Para diminuir o tabu e fazer com que as pessoas entendam o que é e como prevenir o suicídio. Saber que qualquer pessoa pode ter estes pensamentos ajuda a preveni-los. Saber que não podemos criticar ou julgar esses pacientes contribui para que eles verbalizem o desejo de morrer e, assim, recebam ajuda.
Muitos que falaram em morrer estavam pedindo ajuda e não foram entendidos. Então, quanto mais soubermos sobre suicídio mais poderemos preveni-lo.
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